Pedra Furada

Ao nascente da cidade, na estrada da Graça, a curta distancia, está um rochedo que o vulgo denomina “Pedra Furada”, e que é digno de menção, por ser uma raridade.

Alberto Pimentel na – Memoria sobre a historia e administração do município de Setubal, fallando d’este rochedo, escreve – «É digno de reparo, costeando o rio Sado para o leste, e próximo da cidade, um rochedo tão notável pela sua forma, como pela sua grandeza e posição. Tem a base banhada de uma parte pelo Sado, e da outra enterrada n’uma collina arenosa, de que está próximo. Desde a superfície da agua até ao ponto mais elevado mede 17m,98 e de diâmetro uns 8 a 10 metros. A sua formação é granítica, com mistura de material ferrugionoso, muito similhante á do famoso rochedo de Leinigen, na Allemanha.

«A superfície está toda carcomida, crivada de buracos, fazendo lembrar uma enorme esponja de pedra.».

«Tem o que quer que seja de phantastico esta pedra a que chamam Furada. Alguém já escreveu d’ella – O seu vulto gigantesco espalhando-se no rio; a negrura da cor, contrastandocom as alvíssimas areias que lhe occultam a base; a sua posição solitária, como sentinella perdida dos séculos cahidos na voragem do passado; tudo isto lhe dá um aspecto phantastico, para o vulgo, talvez sinistro e medonho, mas para os homens intelligentes apenas singular e curiosíssimo!-»

No Districto de 12 de Junho de 1887, nº 70, lê-se

«PEDRA FURADA – Chamamos a attenção da câmara municipal para aquella raridade geológica, tão apreciada pelos homens de sciencia, muitos dos quaes d’ella tem feito menção circumstanciada em diversos livros e periódicos, e alguns a teem vindo visitar de propósito para estudarem a sua formação.

O nosso chamamento tem por fim lembrar que se desvie da Pedra Furada o traçado da estrada municipal em projecto pela margem do Sado, de modo que não seja preciso destruir aquelle producto de tanto valor pela natureza e pela antiguidade que attesta, coeva com as epochas em que se operaram grandes convulsões no globo. O aspecto geral d’aquele rochedo, cuja base está coberta em grande parte pelas areias e estende até ao meio do rio, indica uma agglomeração de exemplos arbóreos petrificados, e por isso alguns geólogos lhe dão a denominação de dentrites.

Consta que há egual áquelle rochedo só um outro em Leinigen, na Alemanha.

Dos homens de espírito culto, que visitam Setubal, raros deixam de ir ver a Pedra Furada.

Seria um acto barbaresco destruil-a.»

A estrada foi traçada e construída, desviando-se quanto possível do citado rochedo.

ALBINO, José Maria Rosa, Roteiro da Cidade de Setúbal, 1892