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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cetobriga

Cetobriga. Foy huma Cidade do Gentilismo, em cujas ruinas se fundou a Villa de Setubal. Fr. Fernando de Brito, (2), seguindo a Florião do Campo, e a outros, diz, que fora fundada, e povoada por Tubal o anno 145 depois do dilúvio, e lhe chamara Cethubala, ou Cetum-Tubalis, que quer dizer ajuntamento de Tubal, de cujo nome com pouca mudança se deduzio Setubal. Porém André de Resende, (3) e Diogo de Paiva dizem, que não pode ser; antes o Paiva com tenacidade a constitue em Andaluzia. O que temos por mais provável he o que diz o famoso Resende, que houve duas povoações deste nome: a antiga, onde agora está o sítio chamado Troya, que naquele tempo se dizia Cetobriga, e significava Cidade de muito, e grande peixe; porque Briga na língua dos antigos Lusitanos queria dizer Cidade, ou fortaleza, e Cete peixes grandes. Desta opinião he Gaspar Barreiros, (4) o qual afirma, que no seu tempo havia no sitio desta Troya vestígios de umas salgadeiras, em que seccavao o peixe, porque se fazia aqui uma grande pescaria dele, e que debaixo da água se mostravam ainda ruinas de edifícios, cousa, que também testifica Resende. Extincta fibnalmente a antiga Setubal, ou Cetobriga na geral destruição de Hespanha, se passarão alguns moradores dos que restarão para defronte, e principiarão a povoar nova colónia naquele sítio, intitulando-a da mesma forma Cetobriga. Correndo depois o tempo, se veyo a chamar Cetobala, e dahi Cetubala, e hoje Setubal. Desta opinião he Luiz Nunes, (5) Christovão Cellario (1) e convem do mesmo Villalpando in Ezemchielem tom 2. p. 16. Affirma também o alegado Resdende, que no sitio de Troya, ou antiga Cetobriga está por cima da porta da Igreja de Nossa Senhora huma cabeça de carneiro em pedra, e lhe parece que houvera alli hum temlo de Jupiter. De outras pedras alli descobertas faz também memoria o sobredito Antiquario.
(2) Monarq. Lusit. P. 1, cap. 3 Heit. Pin. in Ezech. Cap.17. Far. Europ. Port. Tom. 3, part. 3. Cap. 3.
(3) Resend. I, 4. De Antiq. P. Mihi 216.
Paiv. No Exame de Antiguid. p.9
(4) Barreir. Cotograf. p. 63
(5) Luiz Nunes cap. 33
(1) Cellario Geograf. Antiq. Liv. 2. Cap. I, 16.

in CASTRO, João Bautista, Mappa de Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1764(?), p. 17-18

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