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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ana de Castro Osório



Nascida em 1872 em Mangualde, faleceu em Lisboa em 1935. Viveu em Setúbal onde começou a carreira de escritora.

Seus pais eram de origem beirã. Aos 23 anos veio residir para Setúbal onde casou com o Poeta e publicista setubalense Paulino de Oliveira.


Os seus primeiros interesses orientaram-se para a literatura infantil tendo iniciado uma série de publicações sob o título "Para as crianças" de conteúdo moralizador e educativo.

A par do seu pendor pedagógico, confirmado pela multiplicidade de publicações para crianças, interessou-se sempre por questões de ordem social, cultural e política e muito especialmente pela problemática feminina.

Foi uma mulher que teve uma participação preponderante na divulgação dos ideais feministas e de promoção cultural da mulher na época. Assume-se como feminista e como defensora veemente do seu sexo em toda a sua obra, de que resumidamente citamos: "As operárias das fábricas de Setúbal e a greve" onde dizia:

A questão feminina é a questão da mulher que tem sido na sociedade a eterna escrava, a perpétua ludibriada.

Foi directora do Grupo Português de Estudos Feministas fundado em 1907.

Dentro dos ideais republicanos que perfilhou tem um papel notável como defensora do novo regime e como promotora de alterações e reformas sociais.


Co-fundadora da primeira organização que se propões defender o estatuto das mulheres dentro dos ideais da República - a "Liga Republicana das Mulheres Portuguesas", criada em 1909. Mais tarde, por divergências relacionadas com a própria situação política, Ana de Castro Osório sai da "Liga" e cria a "Associação de Propaganda Feminista" de que é Presidente. Em 1917 funda a "Cruzada das Mulheres Portuguesas" para apoio aos soldados e suas famílias.


Escreveu em várias revistas e foi Directora de "A Semeadora" e "A Sociedade Futura".

Sempre se empenhou para que se reconhecesse a necessidade de lutar contra o analfabetismo nas mulheres, pela criação de creches e jardins de infância, pela valorização das actividades femininas, sempre desvalorizadas porque, diz ela:

Não há Pais civilizado que despreze hoje o trabalho e a acção inteligente de metade, ou mais, da sua população, só porque a Natureza a categorizou no sexo feminino (...) cabendo pois à mulhe observar-se e comprometer-se a si própria (...) tomar o lugar que lhe é devido na marcha para o futuro mais próspero de Portugal.

Manifestou-se sempre grande empenhamento na alteração da situação jurídica da mulher; nesse sentido exerceu a sua acção de escritora e jornalista tendo sido profissionalmente Sub-Inspectora do Trabalho Feminino.

A sua obra "Às Mulheres Portuguesas", publicado em 1905, é um veemente apelo à participação das próprias mulheres na tomada de consciência do que era a sua situação de menoridade na sociedade.

Há ointenta anos, (1905) Ana de Castro Osório escrevia:

As Mulheres conservam-se entre nós numa indiferença quase total pelas conquistas que, dia-a-dia vão marcando um passo de avanço para o triunfo definitivo do espírito sobre a matéria, da inteligência sobre a força, da educação sobre a ignorância, embora doiradas pela fortuna ou pelos privilégios da classe.

Com a esperança que a caracterizava continuava:

Mas, esperemos serenamente, porque à mulher portuguesa há-de chegar também a sua vez de compreender que só no trabalho pode encontrar a sua carta de alforria. Não no trabalho esmagador, exercido como castigo, mas no trabalho que enobrece o espírito, que dá o belo orgulho dos que só contam consigo e nunca foram um peso para ninguém. E desde que se torne independente pelo seu próprio esforço, desde que saiba agenciar o pão que come, a casa que habita, os vestidos - a alforria está decretada.

E diz mais:

No séc. XX a mulher tem que ser outra, porque outro é também o homem e muito diferente o seu ideal. Educar a mãe para ser a educadora dos filhos; educar a mulher em geral para viver de si mesma, e para si, quando pertence à enorme legião das que ficam solteira, e portanto, sem filhos a educar nem casa a governar, deve ser um dos nossos mais porfiados empenhos. É este o verdadeiro feminismo.

Acrescenta ainda:

Julgaram os homens por acaso - tamanha será a sua ingenuidade?! - que podiam em vão dispor de metade da humanidade, reduzi-la ao papel de farfalho de deusa do lar, nuvem, anjo, demónio e todas quantas mais banalidades se têm dito e escrito à séculos e, dizer-lhe: fica aí! o teu destino é agradar-me ou servir-me, conforme o meu capricho de senhor!?

A bibliografia de Ana de Castro Osório é extensa:

"Infelizes", "Crianças e Mulheres", "Festas Infantis", "A minha Pátria", "Os nossos Amigos", "Uma lição de História", "Lendo e aprendendo", "Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda", "O Livrinho Encantador", "Quatro Novelas", "O Direito da Mãe", "A Grande Aliança", "Em Tempo de Guerra", "A Mulher na Agricultura, nas Indústrias Regionais e na Adminiatração Municipalista de Évora", "Ambições", "Dias de Festa", "Mundo Novo", "A Verdadeira Mãe", "A Capela das Rosas", "O Mais Forte", "O Doce Perfume", "Outrora" (livro de evocações), "A Zeladora", "Bem prega Frei Tomás", "A Comédia de Lili", "A Princesa Muda" (conto popular recriado), "A Educação Cívica da Mulher", "A Mulher na Casa e no Divórcio", "As Mulheres Portuguesas", "Contos, Fábulas e Exemplos da Tradição Popular Portuguesa", "As Operárias das Fábricas de Setúbal e a Greve".


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