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domingo, 9 de fevereiro de 2014

João Vaz, Pintor de Marinhas


Nenhum título caberá melhor ao artista de cujo pincel saiu o primoroso quadro reproduzido na tricronomiado presente número. Ainda que o seu talento tenha excursionado frequentemente por outros distritos da arte pictural, desde o da paisagem campestre ao dos trabalhos decorativos, tais como os que executou, de parceria com Ramalho, no Teatro Garcia de Resende, em Évora onde a sua mestria decisivamente se impõe é nos paíneis de assunto marítimo, nos trechos fluviais ou oceânicos, em frente de uma nesga de água azul e translúcida, de céu diáfono e côr turquesa, de uma fase curiosa da pesca, do balancear donaioroso duma barcaça sobre as ondas reverberantes, de um retalho de areia fulva que o sol acarinha, ou de um penedo de configuração estranha em que a espunha das vagas punha uma fimbria de rendas lácteas. Ainda há dias um redactor do Ilustração, de visita ao Algarve, foi surpreender o velho e ilustre pintor na bela e cenográfica Praia da Rocha contemplando embevecidamente o mar, o mar seu amigo de sempre, o mar que se converteu na maior paixão da sua paleta de tintas delicadas e frescas.

Nascido em Setúbal, em 1852, estudou primeiro com o pintor Anunciação, sendo em seguida discípulo do grande Silva Porto. Depois, findo o curso, fez uma viagem de estudo a Madrid e Paris. Do núcleo fundador do célebre Grupo do Leão, de tão forte influência na renovação do nosso movimento artístico moderno, logo no príncipio da sua carreira os motivos de beira-d'água adquiriram hegemonia na sua produção: a Benção da Rede, os Barcos no Sado, Pesca das Lulas, Barracas de Pescadores, Margens do Tejo, As Gaivotas, Baía das Lagoas e tantos outros a juntar a estas citações de acaso.

Em todos esses trabalhos evidenciaram-se fina observação e sentimento exacto do colorido.

in Ilustração, Ano I, Número 18, 16 de Setembro de 1926

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