Il y a une évidence d’exécution, qui, si elle pouvait être connue de tous les
chanteurs, exclurait toute autre exécution ; Madame Todi serait la
cantatrice de tous les siècles: lesa utres manières d’exécuter qui ne s’en
rapprochent pas, sont de mode. Il serait imporante de connaître et de suivre
généralement l’évidence d’exécution; mais helas! C’est aussi impossible que de
répandre sur la terre entière les rayons lumineux des grandes vérités qui n’éclairaent
que les humbles demeures des véritables philosophes.»
A.
Reicha – Traité de
Melodie, abstraction faite de ses rapports avec l’Harmonie. – Paris 1832, in
fol. I.ª Parte, pág. 57.
Foi
em Coimbra, folheando um dia o notável tratado do teórico francês para comentar
uns apontamentos (hoje em manuscrito) sobre a grande escola de canto do século
XVIII, que por um feliz acaso descobrimos a citação feita acima, que nos encheu
de um orgulho e entusiasmo, então bem necessário, para concluir com a tarefa
cada vez mais pesada dos Músicos Portugueses.
Dissemos
mal; não, concluir a tarefa, mas apenas fazer uma pequena pausa de trabalho
menos forçado, pois os materiais para rectificações, aditamentos, etc., afluem
por assim dizer todos os dias.
Se
já então havíamos coligido dados importantíssimos, se já então sabíamos pela
citação encontrada em Gerber que a Todi havia sido honrada em França, apesar de
Mara sua rival, apesar da Cuzzoni, da Gabrielli, da Billington e de preferência
a todas estas com título: La Cantatrice de la nation!... era todavia o elogio
de Reicha tão extraordinário num homem severo como o era este, e saído da sua boca
de um dos mais notáveis teóricos do primeiro quartel deste século, que todos os
encómios anteriores e diremos mesmo posteriores, descobertos até esta hora,
ficam pálidos e frios.
A
descoberta de tão preciosa citação de que temos legítimo orgulho implicava
todavia um dever que compreendemos e tratamos de desempenhar sem demora nem
atenção a sacrifícios de toda a espécie, cumpria fazer uma biografia digna de
tão grande nome; o elogio de Reicha fazia implicitamente a pergunta:
«Que
haveis escrito e feito por essa grande figura do mundo artístico?»
Nada.
Tentámos
fazer alguma coisa; pedimos livros da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha,
mas apenas uma pequena parte dos nossos pedidos pode ser satisfeita; os livros
que tratam da nossa cantora foram escritos pela maior parte no século XVIII;
são jornais de música e almanaques alemães (como adiante veremos), outros
franceses, notícias avulsas, e algumas obras de maior importância, como as de
Burney, de Soriano-Fuertes, De la Borde, etc., etc.
Para
encontrar estes materiais raros, ou de difícil compra, foi mister esperar
ocasião propícia e assim sucedeu que mesmo alguns de entre os que escaparam das
mãos dos musicógrafos estrangeiros, nem puderam, por chegarem tarde, ser
aproveitados por estar nossa biografia já impressa.
Tudo
isto e mais causas que omito por fastidiosas, contribuíram indiretamente para a
imperfeição do nosso trabalho. Entre as outras estranhas a nós mesmos, não foi
a menor, a confusão de datas, de nomes, de factos, etc., em que andavam
embrulhadas as notícias contraditórias de Fétis, de Choron e Fayolle, de
Gerber, Ledebuhr, Scheneider e de outros autores que consultámos para o nosso
trabalho.
Deslindámos
o novelo como pudemos, tendo ainda a fortuna de poder intercalar em advertência
final a data precisa do nascimento e óbito da Todi, informações preciosa que
nos deu o nosso amigo Dr. J. R. Guimarães numa das viagens que fizemos a Lisboa
durante a impressão dos Músicos.
Já
então se ocupava o nosso amigo em trabalhosas investigações a que nos
referimos, pedindo alguma indulgência para uma tentativa arriscada por ser a
primeira, e atraindo a atenção do leitor para o futuro trabalho do nosso amigo,
bem-vindo para enriquecer a nossa biografia e lhe corrigir os defeitos. Dizíamos:
«Aguardamos com ansiedade a biografia do nosso amigo Dr. José Ribeiro Guimarães,
porque esperamos que ela venha completar as lacunas que deixamos abertas,
sobretudo nas notícias que se referem à sua educação artística, ao tempo em que
aqui residiu antes da viagem a Londres, e depois do seu regresso».
Tardou
a biografia dois anos quase, mas veio a final e honra seja feita, bem recheada
de factos novos, apreciações aproveitáveis, anedotas interessantes, enfim digna
de todo o justo louvor porque não usamos fazer doses por encomenda.
Suum
cuique.
Vamos
porém, para provar o dito, examinar de que maneira as duas lacunas foram
preenchidas, expor algumas dúvidas, esclarecer outras sobre factos que
afirmámos nos Músicos e que mereceram reparo ao distinto biógrafo, e enfim
acrescentar algumas modestas novidades atrasadas da nossa biografia, e outras
mais que colhemos numa viagem à Alemanha, França e Espanha, e em livros que de
lá trouxemos.
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