(A um influente eleitoral, que negociou a sua influencia com outro, trahindo assim a candidatura popular em que se fingia muito empenhado)
Quem quizer um burro macho
Que atira um pouco p'ra branco,
Procure por um Franco,
Rechonchudo, gordo e baixo.
É um burro sem despacho,
Burro sem ter feito mortes,
Que, depois de tantas sortes,
Num mercado burrical,
Se vendeu, esse animal,
Por cincoenta mil réis fortes!
Por quantia tão exacta
Toma o burro este conselho,
Guiado por um Coelho,
Que o levou pela arreata.
Um burro vindo da matta
Quiz-se fazer marralheiro;
Mas o Coelho, matreiro,
Para não ter sorte em branco,
Fez venda do burro franco
P'ra se embolsar do dinheiro.
Este animal foi comprado
Por pessoa muito honrada,
P'ra o levar a uma tourada,
De muitos acompanhando.
Haja com elle cuidado,
Não se faça marralheiro,
Porque burro tão matreiro,
Se lhe mostram capa suja,
Pode ser que ainda fuja
E depois... adeus dinheiro
in Eusébio, António, Versos do Cantador de Setúbal. Lisboa 1901
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