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quinta-feira, 6 de março de 2014

Tabernas - Lugares de Encontro e Solidão em Setúbal


Título: Tabernas - Lugares de Encontro e Solidão em Setúbal
Autor: Maurício Abreu
Editor: Edição do Museu do Trabalho / Câmara Municipal de Setúbal
Ano: 1990


As tabernas. Com a sua carga de ócio afogada na sua canada de vinho ou no copo de três, assim surgem, carregadas unicamente desse lastro negativo, aos bem pensantes da moral pública, de todas as morais convencionais. Vão desaparecendo. Ao menos nas cidades, nos grandes aglomerados, substituídas por outros lugares de encontro, ou talvez de encontro-desencontro.

Bem entendido, mudaram os tempos e as tabernas são assim como que anacrónicos vestígios de épocas passadas. Diferentes sinais de convivencialidade ocupam-nos todos os dias. Mas convivência quererá dizer forçosamente comunicação? Por detrás da orgia das cores, do aturdimento dos sons e da febre dos ritmos de hoje – tão universalmente padronizados com o mercado que os propicia – inscrevem-se a precariedade dos gestos, a provisoriedade e lateralidade das aproximações, tudo medido pelo tempo fugaz dos objectos e dos seus símbolos.

Com elas, as tabernas, é, pois, um certo tipo de existência, de convívio e de comunicação que desaparece. De sociedade, em suma. Em que havia espaço para beber uns copos e, entre eles, estirar repousadamente a conversa, sem a concorrência do ruído quase musical e a telenovela da ordem ou para trocar experiência e informações entre interlocutores conhecidos. Ainda está por saber até que ponto importaram elas como centro de comunicação das comunidades em que se inseriram ou inserem.

Certo é que resistiram aos tempos. Ainda mesmo quando algumas bolsas, levadas pela moda, começam a substituir o “tintol” e o bagaço pelo “whisky”, o gin tónico ou, simplesmente, a coca-cola, mantiveram a sua freguesia fiel. Até que a sociedade de consumo as deitou por terra ou quase.

Com isto não se quer obviamente ser revivalista, ou menos ainda saudosista. Mas se as tabernas são hoje parte de um passado, e, nesse sentido, um testemunho histórico ou vivencial não terão também elas o seu lugar de preservação no nosso património ideal e material ou, como agora se diz, na nossa memória colectiva.

João Afonso dos Santos

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