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sábado, 3 de maio de 2014

Comício no Clube Naval

       Como complemento do dia 1 de Maio, Dia Mundial do Trabalhador, em que todos os que produzem têm a sua Festa, realizou-se, pelas 22 horas, no Pavilhão do Clube Naval Setubalense, um comício, onde foi dada verdadeira e inegável prova da adesão do povo ao Movimento das Forças Aramadas.
Completamente esgotado, o Pavilhão do Naval comportou toda uma massa operária que no dia quis marcar em tudo a sua presença. Dísticos variados, bandeiras multicores, a Bandeira Nacional e a do Partido Comunista Português.
Fase de Atenção e Concentração
  Presidiu à Mesa, o democrata Carlos Lopes, que se encontrava acompanhado, entre outros, de Fernando Rodrigues, José Afonso, Jorge Luz, Dimas Pereira, Adílio Costa, e alguns trabalhadores que estiveram nas masmorras da ex-PIDE/DGS.
Abriu a sessão, Jorge Luz, que disse: Compete ao povo português a construção da sua libertação. Peço pois, o fim da guerra colonial, regresso imediato dos soldados, independência total para as colónias, direito de voto aos 18 anos, luta contra os monopólios e capitalismo, total liberdade sindical, direito à greve, aumento imediato dos salários, administração da Previdência pelos trabalhadores, extinção total da ex-PIDE/DGS e julgamento de Marcello Caetano.
Seguidamente, afirmou Carlos Lopes:
O 25 de Abril é uma nova jornada, cujos continuadores seremos nós. Nas fábricas, ruas, cafés, nas Juntas de Freguesia, Câmaras e Governos Civis, no Governo da nossa Nação. Ai continuará o nosso Movimento e teremos que nos organizar. Continuemos este Movimento de Libertação, que exige sacrifício de todos nós, dando o melhor do nosso esforço.
Sempre com entusiasmo dos presentes, usou da palavra Teodósio e depois Carlos Nascimento, um trabalhador, disse: 
Desde muito jovem sempre tenho sido explorado. O regime que nos oprimiu, e aos nossos justos desejos, acabou. Foram-nos sempre negadas as nossas liberdades sindicais. Como trabalhador, apelo para vós que cerrem fileiras para obter liberdade sindical, direito à greve, aumento dos salários sem aumento do custo de vida, ensino secundário grátis e muitas outras regalias.
Viva o Partido Comunista Português e o seu secretário-geral Álvaro Cunha, e daqui salvo a Junta de Salvação Nacional e todos os anti-fascistas.
Depois, foi a vez do incansável Abílio Ferreira que além de dar aos assistentes uma noção perfeita do Movimento das Forças Armadas, afirmou: 
Companheiros. Sabemos como a feroz ditadura de Marcello Caetano e Salazar se abateu sobre a classe operária mas não podemos ignorar todos os que ergueram a luta, como: Padre Mário de Oliveira, Professor Rui Luís Gomes, os padres do Macuti (que se ergueram em defesa dos povos coloniais indefesos), Maria Lamas e General Humberto Delgado.
Foi a luta de todo o povo progressista com a classe operária à frente que criou as condições para que o povo vivesse esses momentos inesquecíveis e patrióticos.
Glória à classe Operária!
O fascismo foi isolado, tanto aqui como no estrangeiro resultante da luta heróica do nosso povo e do povo para as colónias apoiado pelos progressistas de todo o mundo, das classes trabalhadoras irmãs que, isolando o regime, permitiram ao M.F.A. derreter em poucas horas a resistência fascista.
Glória aos soldados de Portugal!
O Portugal de Caetano e Tomás representava para todo o mundo um perigo, pois actuava como um elemento de provocação a nível internacional que procurou arrastar a NATO para o Atlântico Sul, para aí proteger a sua acção criminosa em África.
Usaram depois da palavra, Adriana Espanca que fez a apologia da igualdade de direito entre mulheres e homens, Valdemar de Sá, e Fernando Rodrigues que afirmou:
É com emoção que vos falo. E é tal, que não sou capaz de dizer algo.
Fui surpreendido numa madrugada de trabalhão com o Movimento das Forças Armadas, e disse: Já vale a pena ter vivido.
Devo dizer que as colectividades de Setúbal tem uma missão a cumprir.
Depois de pedir um minuto de silêncio em memória dos anti-fascistas mortos, disse:
Nascemos para a liberdade, palavra que nunca pudemos pronunciar.
A encerrar a sessão, José Afonso:
É fundamental que nos voltemos a reunir para tratarmos de problemas. A partir de hoje é necessário que se repitam estas reuniões. O perigo do fascismo, e temos como exemplo o Chile, ainda não acabou. A partir de hoje é necessário unirmo-nos para derrubar os últimos núcleos da resistência fascista. Temos de passar da fase do coração para fase da cabeça, da acção.
Após estas palavras, toda a assistência cantou com José Afonso, a sua muito conhecida GRÂNDOLA VILA MORENA.
Entusiasmo e Manifestação
Embaladas pelas palavras, como se em uníssono fosse um louvor à liberdade, terminou em apoteose esta grande concentração da massa trabalhadora, reunida em Setúbal no 1º de Maio, festa sua, jamais celebrada.
Terão agora, eles próprios, trabalhadores, que conquistar os seus legítimos lugares na sociedade livre que se pretende, à custa do seu esforço e do trabalho honesto.
VIVA O MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS.
VIVA PORTUGAL

Texto e fotos de: Rogério Severino
in O Setubalense, 3 de Maio de 1974

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