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sábado, 21 de junho de 2014

A torre do campanário



A torre do campanário do Convento de Jesus está ao sul, na fachada do mesmo convento, encostada à parede da casa do coro, em cujo ângulo do lado poente está um botaréu. Assenta a torre entre esta parede e a do ante coro, na qual fica encravada, mas sem saliência nem retraimento, e assim as faces das paredes externas estão no mesmo nivelamento.

A parede do antecoro, do solo à sua cimalha, mede uns 8 metros de altura, donde, por assim dizer, do seu soco ou base aparece então e se ergue a torre do campanário, de forma quadrada, com 4 metros de largura em cada face, e subindo a sua altura até 18 metros, isto é, a 4 metros da cimalha da parede do antecoro, o que já perfaz 12 metros de altura, que é a altura da parede do coro, e da igreja, e erguendo-se ainda mais uns seis metros até ao último remate do seu coruchéu.
De sobre a cimalha da parede do antecoro mostra logo a torre em cada uma das suas quatro faces, uma faixa horizontal, um tanto saliente, e com que a modo de soco ou base do corpo que se ergue, subindo em cada um dos quatro ângulos um pilar, com quase metade da altura da caixa da torre, e encimado de um cordão saliente, que serve de base a outro pilar de menor altura, também encimado do mesmo modo. Sobre este segundo cordão assenta uma base quadrada, tendo no cimo uma estreita faixa saliente, e sobre a qual se ergue uma outra pilastra octogonal, rematando com uma pirâmide. Estas pilastras estão colocadas em três andares, que se retraem na proporção em que os mesmos andares vão subindo. No espaço do centro, entre as duas primeiras pilastras, e metade da altura da terceira, está o vão das escadas para a torre, e em cima a caixa do campanário com suas ventanas, veladas por uma grilhagem de tijolos postos a cutelo, ficando cada ventana, no meio de um arco de volta inteira, que faz parte da abóbada que cobre mesmo espaço quadrilátero da torre.
Desde a cimalha da parede da casa do antecoro (em que então se ergue e mostra a torre), até aquele arco, as peças das faces que ficam à vista e desembaraçadas, pelo menos as do sul e poente, são de pedra calcária dura. As obras superiores do arco são de alvenaria.
Sobre o arco que circunda na parte superior a grilhagem de tijolos, mostra-se uma parede, a modo de muro fortificado com suas ameias, tendo em cada um dos quatro ângulos uma pilastra octógona, que remata com um coruchéu em pirâmide. Do interior deste simulado espaço fortificado, que cobre em abobada a caixa do campanário, e forma ao mesmo tempo a base, servindo, por assim dizer, de elegante e ostentoso pavilhão do cimo da torre, ergue-se o seu grande coruchéu octógono e piramidal, coroado de um relevado cordão que remata com uma esfera, sobre a qual se eleva uma cruz de ferro, cujo braço em forma de seta, gira sobre a haste, e torna-se assim também a grimpa da torre.

De uma porta que está da parte de dentro do antecoro, segue uma estreitíssima e escura escada, sem uma única lumieira, com 27 degraus de pedra, em forma de triângulo escaleno, e que metendo-se por entre a parede, erguem-se em espiral até à caixa do campanário. Aqui conservam-se ainda os dois sinos que o rei D. Manuel ofereceu ao convento. Um, o grande, era considerado como dos melhores que havia no País; tinha esculpidos em volta os nomes de Jesus e Maria. O outro é menor.

in CARVALHO, Almeida, Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense - Vol. III: Convento de Jesus

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