A torre do campanário do Convento de Jesus está ao sul, na
fachada do mesmo convento, encostada à parede da casa do coro, em cujo ângulo
do lado poente está um botaréu. Assenta a torre entre esta parede e a do ante
coro, na qual fica encravada, mas sem saliência nem retraimento, e assim as
faces das paredes externas estão no mesmo nivelamento.
A parede do antecoro, do solo à sua cimalha, mede uns 8
metros de altura, donde, por assim dizer, do seu soco ou base aparece então e
se ergue a torre do campanário, de forma quadrada, com 4 metros de largura em
cada face, e subindo a sua altura até 18 metros, isto é, a 4 metros da cimalha
da parede do antecoro, o que já perfaz 12 metros de altura, que é a altura da
parede do coro, e da igreja, e erguendo-se ainda mais uns seis metros até ao
último remate do seu coruchéu.
De sobre a cimalha da parede do antecoro mostra logo a torre
em cada uma das suas quatro faces, uma faixa horizontal, um tanto saliente, e
com que a modo de soco ou base do corpo que se ergue, subindo em cada um dos
quatro ângulos um pilar, com quase metade da altura da caixa da torre, e
encimado de um cordão saliente, que serve de base a outro pilar de menor
altura, também encimado do mesmo modo. Sobre este segundo cordão assenta uma
base quadrada, tendo no cimo uma estreita faixa saliente, e sobre a qual se
ergue uma outra pilastra octogonal, rematando com uma pirâmide. Estas pilastras
estão colocadas em três andares, que se retraem na proporção em que os mesmos
andares vão subindo. No espaço do centro, entre as duas primeiras pilastras, e
metade da altura da terceira, está o vão das escadas para a torre, e em cima a
caixa do campanário com suas ventanas, veladas por uma grilhagem de tijolos
postos a cutelo, ficando cada ventana, no meio de um arco de volta inteira, que
faz parte da abóbada que cobre mesmo espaço quadrilátero da torre.
Desde a cimalha da parede da casa do antecoro (em que então
se ergue e mostra a torre), até aquele arco, as peças das faces que ficam à
vista e desembaraçadas, pelo menos as do sul e poente, são de pedra calcária
dura. As obras superiores do arco são de alvenaria.
Sobre o arco que circunda na parte superior a grilhagem de
tijolos, mostra-se uma parede, a modo de muro fortificado com suas ameias,
tendo em cada um dos quatro ângulos uma pilastra octógona, que remata com um coruchéu
em pirâmide. Do interior deste simulado espaço fortificado, que cobre em abobada
a caixa do campanário, e forma ao mesmo tempo a base, servindo, por assim
dizer, de elegante e ostentoso pavilhão do cimo da torre, ergue-se o seu grande
coruchéu octógono e piramidal, coroado de um relevado cordão que remata com uma
esfera, sobre a qual se eleva uma cruz de ferro, cujo braço em forma de seta,
gira sobre a haste, e torna-se assim também a grimpa da torre.
De uma porta que está da parte de dentro do antecoro, segue
uma estreitíssima e escura escada, sem uma única lumieira, com 27 degraus de
pedra, em forma de triângulo escaleno, e que metendo-se por entre a parede,
erguem-se em espiral até à caixa do campanário. Aqui conservam-se ainda os dois
sinos que o rei D. Manuel ofereceu ao convento. Um, o grande, era considerado
como dos melhores que havia no País; tinha esculpidos em volta os nomes de
Jesus e Maria. O outro é menor.
in CARVALHO, Almeida, Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense - Vol. III: Convento de Jesus
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