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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

D. Gonçalo Pinheiro

É das maiores e mais ilustre figuras de eclesiásticos entre os muitos que, vendo a luz da vida em Setúbal, ascenderam a altas dignidades.
Nascido na Rainha do Sado, ao que parece em 1490, visto ter morrido com 77 anos, em 1567, era filho de João Pinheiro e D. Leonor Rodrigues, neto paterno de Afonso Fernandes, secretário da Rainha D. Filipa de Lencastre, e materno de Gonçalo Rodrigues, cavaleiro de D. João II. Pelo casamento de uma irmã com Jorge de Cabedo estava aparentado com os Cabedos de Setúbal, a mais nobre família da nossa terra.
Doutor por Salamanca, licenciado em Cânones pela Universidade de Lisboa, foi Cónego da Sé de Évora, do Conselho Geral da Santa Inquisição, Bispo de Çafim, desde 1537 a 1542, de Tânger até 1552 e depois de Viseu até 1567. 
Diplomata notável exerceu as funções de Embaixador de D. João III junto da Corte de França e, em idêntica qualidade, esteve numa conferência em Baiona, a fim derimir determinada questão entre os soberanos francês e português. Também por nomeação do «Piedoso» desempenhou o cargo de Desembargador do Paço.
Amigos dos homens mais célebres do seu tempo, graças à sua intervenção Camões foi livre da Cadeia do Tronco de Lisboa onde estava por ter agredido o moço de arreios do soberano, Gonçalo Borges, favor que o poeta lhe agradeceu com um soneto. 
Geómetra, astrónomo, hebraísta, e helenista notável devem-se-lhe, ainda as Constituições sinodais do Bispado de Viseu, impressas em 1556.

Soneto de Camões dedicado a D. Gonçalo Pinheiro

Depois que viu Cibele o corpo humano
Do formoso Átis seu, verde Pinheiro,
Em piedade o vão furor primeiro
Convertido, chorou seu grave dano.
E, fazendo a sua dor ilustre engano,
A Júpiter pediu que o verdadeiro
Preço da nobre palma e do loureiro
Ao seu pinheiro desse, soberano.
Mais lhe concede o filho poderoso
Que as estrelas, subindo, tocar possa,
Vendo os segredos lá do céu superno.
Oh, ditoso pinheiro! Oh mais ditoso
Quem se vir coroar da folha vossa,
Cantando à vossa sombra verso eterno! 

in PAXECO, Óscar, Roteiro do Tríptico de Luciano. Setúbal, Câmara Municipal de Setúbal, 1999.

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